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terça-feira, 25 de setembro de 2012

Florença: um aparte. As colônias felinas!

Quem me conhece sabe que adoro animais de estimação e colaboro com a Confraria dos Miados e Latidos. É uma ONG que resgata gatos e cachorros abandonados e promove sua adoção segundo os critérios da guarda responsável. Também oferece mutirões de castração a preços populares e efetua ações de CED (Captura, Esterilização e Devolução) de gatos ferais que vivem em colônias urbanas, como terrenos baldios, controlando, assim, a explosão demográfica dos felinos na cidade e contribuindo para sua qualidade de vida.

Sendo assim, eu não poderia passar batido por esta placa que David e eu vimos em nosso segundo dia na deslumbrante Florença:


Não falo italiano, por isso traduzi porcamente as informações da placa (com a ajuda do Google Tradutor, e não me queimem, pois não sou tradutora do italiano e o Google era o que havia à mão):
Município de Florença
Escritório dos Direitos dos Animais
Colônia Felina Protegida
Estejam avisados, todos que fizerem mal aos gatos que vivem aqui, que os maus-tratos a animais são puníveis nos termos dos artigos 638 e 727 do Código Penal com penas de até quatro anos de prisão.
Colônia Felina # 3
Prometi que pesquisaria mais a respeito e eis o que descobri.

O site da OIPA, organização florentina que promove a adoção de animais destituídos, de gatos e cachorros a animais exóticos (isto é, importados) que foram abandonados nas áreas verdes de Florença, explica assim as colônias felinas:
As colônias felinas fazem parte do patrimônio da região, são um recurso e não um problema. O gato livre, que caça lagartos e vive entre árvores e arbustos, é um elemento essencial da nossa paisagem e, como tal, deve ser respeitado e apreciado. Gatos, como todos os outros animais, têm sua própria personalidade e estilo de vida, e sua alegria é a possibilidade de escolha, a caça e a exploração da área. Não são prejudiciais para os nossos jardins e parques, mas parte integrante deles.
Não ficou claro para mim se eles consideram que todos os gatos deveriam ter "vida livre" (o que contraria o conceito da guarda responsável) ou se apenas esperam que as pessoas respeitem os gatos ferais, que já se acostumaram a viver dessa forma por gerações. Fui adiante:
O que é uma colônia felina?
Por colônia felina entende-se um grupo de gatos de rua que vivem livres na área e frequentam regularmente o mesmo lugar público onde se alimentam, se reproduzem e se abrigam. Os gatos que vivem livres no patrimônio municipal pertencem ao Estado e são, em todos os aspectos, responsabilidade do município, que garante o atendimento, o bem-estar e a esterilização, proibindo qualquer forma de abuso com a Lei 281/91. De acordo com esta lei, as ASL são obrigadas a esterilizar as colônias de felinos livres pertencentes ao seu território.
Ou seja, o equivalente deles à nossa prefeitura é legalmente responsável pelos cuidados veterinários e pela castração dos gatos ferais da cidade! Trabalho que em São Paulo é feito somente por iniciativa privada, como a de meus amigos da Confraria. Temos aqui o CCZ (Centro de Controle de Zoonoses), que oferece a castração gratuita de 10 animais por pessoa com veterinários ótimos, mas não temos áreas protegidas para os animais viverem. Na colônia que vi, aliás, essa "liberdade" é relativa: era um terrenão verde, como um parque, cercado por grades por onde um gato não passaria para a rua, e dentro havia casinhas para os animais. Era seguro e isolado das áreas públicas. Só entra lá quem cuida dos gatos. Nem todas as colônias são fechadas; o texto passa a impressão de que algumas são abertas, incluindo parques e praças. Mas só a presença dessas placas nas colônias, inibindo os maus-tratos, e a forma como a prefeitura encara a questão me soam como uma atitude geral respeitosa em relação aos animais. Gostaria de verificar o assunto mais a fundo com alguém que viva ou tenha vivido em Florença.

Enquanto isso, tem mais texto:
Quem cuida dos gatos abandonados?
É normalmente chamado de "gattaro" [gateiro]. Esse termo refere-se à pessoa que ajuda a prefeitura, voluntária e livremente, a lidar com o cuidado e a manutenção das colônias felinas.
Por "referente da colônia" entende-se o gateiro que, com reconhecimento formal do Município, representa a colônia em suas relações com as instituições.
Residentes de áreas adjacentes devem demonstrar compreensão e apoio ou, pelo menos, tolerância à colônia felina em si, que é considerada patrimônio do território.
Ao mesmo tempo, as atividades de gestão da colônia devem ser realizadas respeitando plenamente os lugares e as pessoas, tentando causar o mínimo de transtorno possível e limitar o número de animais.
Os gateiros são obrigados a respeitar as regras de higiene dos terrenos públicos, evitando a dispersão de alimentos e garantindo a limpeza da área onde os gatos são alimentados após cada refeição.
Ao gateiro ou gateira também deve ser permitido o acesso a qualquer área de propriedade pública para alimentar e cuidar dos gatos em todo o município. O acesso do gateiro a propriedades particulares está sujeito ao consentimento do proprietário.
Pulando informações sobre a legislação, chegamos a outro ponto interessante:
Quem captura os gatos ferais? 
A captura dos gatos livres para tratamento e esterilização pode ser realizada tanto pela Azienda Sanitária [Secretaria da Saúde ou algo assim], em colaboração com as associações da cidade e voluntários, quanto por gateiros ou pessoas designadas pelo Conselho da Cidade. A captura é feita com o uso de "gaiolas-armadilhas" especialmente criadas para causar o mínimo desconforto possível ao animal e não podem, de forma alguma, feri-lo.
Ou seja, eles também usam gatoeiras! E são adeptos da esterilização (castração):
Esterilizar, por quê? 
A esterilização é a única forma eficaz de combater o abandono. Previne as infecções de FIV e FELV devido ao acasalamento, as brigas entre os machos e seus passeios por grandes territórios em busca de fêmeas, a marcação do território, a inconveniência para os moradores e  a possibilidade de envolvimento em acidentes de trânsito, com vítimas tanto humanas como animais. Na maioria dos casos, o destino das ninhadas de gatinhos em colônias selvagens é lamentável, por causa da promiscuidade desses animais, que de outra forma seriam solitários na natureza. São vítimas de maus-tratos por parte daqueles que não amam nem respeitam os animais e vítimas de viroses que levam a problemas graves de saúde ou morte.
E quantos gatos abandonados existem em Florença? Pelo site da OIPA,
assume-se que sejam pelo menos 2 milhões e 600 mil gatos livres, de acordo com os dados fornecidos pelo Ministério da Saúde em 2006. De acordo com o Eusispes, na Itália, a cada ano, 200 mil gatos são abandonados. "Na Itália, um gato é morto em um acidente de carro ou por mãos desconhecidas a cada 10 minutos, ou seja: 144 gatos mortos a cada dia, 4.320 a cada dia e um total de cerca de 52.000 a cada ano."
Ou seja, mesmo com todo o trabalho de conscientização e a criminalização do abandono, ruindade existe em todo lugar.

Mas não fiquemos tristes. Nós, que gostamos de animais, vamos continuar fazendo o que estiver ao nosso alcance para aliviá-los do sofrimento em que nossa civilização maluca os colocou, não vamos?

Você, que está lendo este texto, certamente também se importa com eles. Se ainda não sabe o que fazer para ajudar a melhorar a situação dos animais urbanos, clique aqui e conheça as muitas formas de se envolver com a questão. Certamente há uma que caiba no seu tempo e bolso. :-)

E fique com esta reportagem bastante informativa do jornal La Nazione, de Florença, que também traduzi como pude.
Colônias e voluntários: aqui é a cidade dos gatos 
A cidade atende a mais de 5.000 gatos 
por Patrizia Lucignani 
Cursos de formação para aqueles que querem se tornar "gattai", voluntários que cuidam de animais abandonados 
Florença, 21 de novembro de 2011. ALGUNS (os felizardos) vivem no calor de nossas casas e passam o tempo pacificamente deitados em sofás e poltronas, alternando longos sonos refrescantes com momentos de brincadeira e afagos. Outros (muitos outros) passam a vida ao ar livre, procurando abrigos para dormir e proteção contra o frio e a chuva. A vida dos gatos de Florença tem muitos aspectos. Felizmente, para aqueles que "não têm um teto sobre a cabeça", há agora uma sólida rede de apoio. 
Gatos de fato livres são auxiliados (alimentados, tratados e esterilizados) pela cidade (como exigido pelo regulamento municipal sobre a proteção dos animais, aprovado em 1999) com a colaboração da Secretaria da Saúde e centenas de voluntários autorizados. Na verdade, a cidade tem um acordo com a AMA (Amigos do Mundo Animal), organização sem fins lucrativos que lista em nome da cidade as colônias felinas (grupos de gatos que vivem em liberdade e habitualmente frequentam o mesmo lugar). Atualmente, de acordo com os dados fornecidos ao Escritório dos Direitos dos Animais, cujo diretor é o Dr. Arnaldo Melloni, existem no município 442 colônias selvagens, com um total de cerca de 5.600 gatos
Não é oportuno dar referências precisas dos locais específicos onde se encontram as colônias, pois muitas vezes as pessoas as consideram como "lixões", onde podem largar gatos que já não desejam manter em casa, e às vezes pode ocorrer vandalismo por parte daqueles que são "intolerantes" para com os animais. 
O que se pode informar é quantas colônias existem em cada distrito: distrito 1: 41; distrito 2: 97; distrito 3: 71; distrito 4: 79 distrito, 5: 154. Considerando que a média de cada colônia é de cerca de 10 gatos e que algumas colônias encontradas em grandes áreas verdes são particularmente numerosas (de 50 a 60 gatos cada), aqui temos apenas um número geral, que é de cerca de 5.600 gatos. Os voluntários que cuidam desses animais, e são chamados de "gattai ou "gattaie" [gateiros], são cerca de 450. Cada um deles possui um crachá e tem livre acesso à alimentação e aos cuidados com os gatos em qualquer área pública de todo o município. Podem ser instituídas, quando há uma demanda, até mesmo colônias felinas em áreas privadas. Neste caso, claro, os voluntários só podem ser acessar o local ​​com o consentimento do proprietário. 
As pessoas que quiserem realizar essa atividade voluntária e se tornar "gateiras" autorizadas podem obter o distintivo depois de completar um curso de formação. Se estiver interessado, entre em contato com o Serviço de Proteção às Colônias Felinas de Florença (telefone 055.486669). Esse escritório, com sede na Via Mariti 47 Rosso, realiza várias atividades: tem porta aberta ao público para a coordenação de ações, um censo das colônias e uma sala de emergência 24 horas com capacidade para 24 gatos feridos (o telefone para emergências é 329,9518935).
Minha conclusão é que não existe cidade perfeita porque a humanidade é imperfeita: gente folgada, porca e sem coração existe em toda parte. Mas gente legal também. Florença parece estar em um bom caminho. ;-)

Um comentário:

  1. Amei o teu texto. Sou uma apaixonada por gatos, tenho uma gata chamada Peteca e por mim teria mais uns 10 gatos em casa. Saio ajudando os gatinhos que vejo na rua, e aqui em Israel o gato é o bicho de rua nacional. Aqui tem muita gente que vive a alimentá-los, algumas pessoas os castram, mas não vejo as prefeituras fazendo nada. Há abrigos onde também trabalham voluntários, mas não acredito que as prefeituras tenham a ver com isso. Achei admirável o que se faz em Florença. Pode não ser perfeito, mas como você disse, parece estar em um bom caminho. Que este exemplo seja seguido por cada vez mais cidades. Quando for novamente a Florença, vou procurar uma dessas colônias. Quem sabe posso ser uma gattara por um dia :D

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